quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ano V - número 56 - julho/2015: Novos ataques perpetrados contra a língua portuguesa (III)

         Prezado leitor, prezada leitora, o tempo corre veloz e eis que se inicia o mês de julho, trazendo o breve recesso na maioria das instituições de ensino brasileiras.
         Prosseguimos, na presente publicação, com os comentários abalizados e críticos concernentes às novas regras ortográficas propostas e impostas pela Comissão da Educação do Senado Federal.
1- É necessário ter muito cuidado na retirada do h mudo inicial das palavras. A própria língua italiana manteve-o em hotel, por ser palavra internacional, e em derivados de nomes próprios (hegeliano, hitlerista). Da mesma forma, em quatro formas do verbo avere (ho, hai, ha, hanno), para evitar a homonímia com "o" (conjunção "ou"), "a" (preposição "a"), "ai" ("aos"), "anno" ("ano"). Já as palavras homem e hoje possuem o h mudo inicial decorrente das suas respectivas formas latinas hominis e hodie.
         O h se mantém fazendo parte dos dígrafos lh e nh. Exemplos: calha, malha, pilha, ralha, telha; anjinho, banha, colarinho, ganha, pergaminho.
         O h aparece também nos compostos em que o segundo elemento, iniciado por h etimológico, une-se ao primeiro mediante hífen: anti-higiênico, pré-história, super-homem. Nesse caso, segundo a nova proposta, ele desapareceria.
         Quanto ao h medial, que não é pronunciado já há muito tempo, desapareceu em português. Exemplos: desabitado, desonra, desumano, inábil, lobisomem, reaver.
         Existe, porém, uma exceção: por tradição, o topônimo Bahia é grafado com h, o mesmo não ocorrendo, no entanto, com seus derivados baiano, baianidade, baianismo e compostos coco-da-baía, laranja-da-baía. Antigamente, utilizava-se o h para indicar hiato: escrevia-se bahia (baía), prohibido (proibido), sahida (saída), sahude (saúde). Quando essa utilização do h foi abolida, o estado da Bahia, cuja capital se situa às margens da baía de Todos os Santos, conservou a tradição na escrita de seu nome.
2- Pela nova proposta, o dígrafo gu deixará de existir, pois guerra e guitarra, a título de exemplos, passarão a ser grafadas gerra e gitarra. Trata-se de um sistema que vai de encontro à intuição. Ao invés disso, seria mais indicado observar as soluções localizadas pelas línguas latinas que há séculos adotam grafias fonológicas. Tais soluções poderiam servir como exemplos ao nosso idioma materno. 
3- A nova proposta quer extinguir a utilização do dígrafo ch e utilizar apenas x na grafia das palavras. A justificativa alegada é que ch possui som de x. Alteração completamente indevida e estranha, sobretudo ao se observar palavras sempre grafadas com o dígrafo ch passarem a ser grafadas com x, como, por exemplo: xuva, xance, xave etc.
4/5/6- Está sendo proposto que "casa", "cidade", "exame", "exceto" sejam grafados "caza", "sidade", "ezame", "eseto". Ora, estão querendo atribuir às letras valores que elas nunca tiveram na tradição escrita de nossa língua materna. O coordenador do grupo técnico afirmou algo que é vazio e não justifica tal mudança: "Caza com z continua sendo um substantivo."
         Aliás, leitor (a), precisamos ter sempre presentes os verdadeiros valores que essas letras têm em nosso idioma.
         Na próxima publicação, a seqüência das explanações e comentários sobre as alterações ortográficas polêmicas. Tenham um bom período de recesso todos os envolvidos no processo educativo!