sábado, 31 de maio de 2014

Ano IV - número 43 - junho/2014: Exercícios úteis para aperfeiçoar o vocabulário: a amplificação - 2ª. parte

         Assíduo (a) leitor (a), mais uma publicação do blog de comentários lingüísticos é apresentada para a sua leitura e estudo. Neste mês, vamos encerrar o exercício da amplificação, com exemplos de textos em prosa.
         Muitos parágrafos são verdadeiras amplificações realizadas por meio de exemplos, ilustrações, confrontos, analogias, comparações e metáforas. Contudo, o parágrafo se diferencia da amplificação porque inclui idéias secundárias de ordem diversa da idéia-núcleo. Os dois exemplos de parágrafos que seguem constituem amplificações. Neles desenvolve-se a mesma idéia-núcleo de "pátria". Observe:
         A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não inflamam, os que não conspiram, os quenão sublevam, os que não delatam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo.  (Rui Barbosa)
              A pátria não é a terra; não é o bosque, o rio, o vale, a montanha, a árvore, a bonina; são-no os atos, que esses objetos nos recordam na história da vida; é a oração ensinada a balbuciar por nossa mãe, a língua em que, pela primeira vez, ela nos disse: _ Meu filho!  (A. Herculano)
         Porém, a verdadeira amplificação, no sentido empregado pelos antigos, sobretudo é aquela que observamos na poesia bíblica. Por influência do estilo hebraico, é aquela que é feita, preferencialmente, por definições sinonímicas, com o objetivo de retirar interpretações equívocas, de enfatizar o exato sentido, de provar a veracidade de uma declaração. Várias amplificações são, por conta disso, expressões redundantes de uma mesma idéia. Veja:
         Senhor, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor. Não apartes o teu rosto de mim. Em qualquer dia em que me achar atribulado, inclina para mim o teu ouvido. Em qualquer dia em que te invocar, ouve-me prontamente.  (Salmo 101, 2-3)
           A amplificação inábil, isto é, do tipo daquelas ouvidas da boca de oradores com pouca imaginação, mas muito loquazes, degenera em pura tautologia (repetição inútil de uma mesma idéia em termos diferentes), pecado em que incorrem com freqüência mesmo os melhores escritores. Rui Barbosa, por exemplo, apesar da sua exuberante imaginação, ou por causa disso, dá mostras de deliciar-se ao praticar amplificações tautológicas ou redundantes. Confira:
          O sertão não conhece o mar. O mar não conhece o sertão. Não se tocam. Não se vêem. Não se buscam.
            Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente.
             Devemos fugir da tentação de pegar a mesma idéia e repeti-la revestida de diferentes formas, pelo simples prazer de jogar com palavras que nada acrescentam ao que já foi falado. Essa é a característica pertencente ao estilo prolixo, em que a amplificação termina por redundar em mero encadeamento de sinônimos.
              Na próxima publicação, principalmente para os estudantes, o blog veiculará uma lista de outros exercícios igualmente válidos no intuito de melhorar o seu vocabulário. Até o próximo mês! 

         

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