domingo, 31 de maio de 2015

Ano V - número 55 - junho/2015: Novos ataques perpetrados contra a língua portuguesa (II)

        Assíduo (a) leitor (a), na última publicação, você tomou conhecimento da nova proposta ortográfica que está sendo preconizada pela Comissão da Educação do Senado Federal e das regras impostas.
         Na presente publicação, vamos tratar a respeito da repercussão gerada por essas novas mudanças e intensificar os comentários e análises críticas.
         No meio dos estudiosos e intelectuais de nosso idioma, já iniciou a polêmica, que não deverá ser pequena. A propósito, citemos Dorotea Kersch, doutora em Filologia Românica e professora do Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada da Unisinos, no Rio Grande do Sul.
         Ela afirmou com todas as letras que a proposta é um "absurdo, a legítima falta de ter o que fazer". E rebate com muita propriedade: "Não existe língua fácil ou língua difícil. Cada língua tem sua história e suas especificidades. Não é simplificando a ortografia que resolvemos os graves problemas de leitura e escrita de nossos alunos, que são escancarados a cada avaliação sistemática. Quem sabe os senadores se preocupam com coisas que realmente impactam o ensino, como salário de professores, ou uma política de ensino de língua adequada às diferentes realidades do Brasil."
         Observe que a referida professora, com conhecimento pleno e consciente, toca no problema crucial trazido por essas novas regras, que é a falta de respeito e consideração para com a história e as especificidades da língua portuguesa. Ora, a língua portuguesa veio do latim e, no intuito de querer simplificar a ortografia, nem mesmo este está sendo considerado. Enfatiza que a simplificação da ortografia não resolverá os graves problemas lingüísticos dos estudantes, que são evidenciados nas diversas avaliações realizadas. Por fim, aponta soluções possíveis e plausíveis, finalizando ao citar uma política de ensino de língua adequada às diferentes realidades brasileiras, que efetivamente pode ser o caminho que abre novas perspectivas.
         De forma alguma, este blog deseja insinuar que a ortografia da língua portuguesa não possa ser simplificada. Porém, a simplificação, da maneira como está sendo feita, possui fundamentos equivocados e, além disso, poderá mais criar confusão do que solução para os usuários do idioma pátrio.
         Também causa estranhamento outra reforma sendo sobreposta a uma recente reforma mal assimilada ainda.
         As editoras, sendo muito precipitadas, teriam de reeditar novamente livros que acabaram de ser reeditados para fazer as novas adequações ortográficas, levando-as, assim, à falência.
         A impressão que se tem a respeito dessa nova proposta é de que a adoção de uma grafia fonológica é o objetivo prioritário. Muitos traduzem isso de forma grosseira pelo lema "escrever como se fala".
         Toda língua possui sua dimensão histórica. O português contemporâneo possui afinidade com as outras línguas românicas e com o seu próprio passado. Ora, o rompimento drástico com tudo isso representaria um trauma. Por essa razão, não se deve abandonar o alfabeto latino para utilizar símbolos fonéticos ou ideogramas, ainda que estes sejam de maior praticidade.
         A partir deste ponto do comentário, cada regra da nova reforma proposta será comentada e analisada criticamente de acordo com a ordem e a numeração apresentada na publicação anterior deste blog.
1- A respeito da retirada da letra h no início das palavras simplesmente por não representar som é, de certa forma, absurda. Isso porque ela se mantém em algumas palavras em decorrência da etimologia. Exemplos: hábil, habitação, hábito, haver, herói, hiato, honesto. É preciso destacar que existem palavras em que já se eliminou o h etimológico, como erva (do latim herba, ae); andorinha (do lat. hirundo, inis); inverno (do lat. hibernu). Porém, ele aparece nas palavras derivadas dessas palavras. Observe: erva: herbáceo, herbanário, herbicida, herbívoro; andorinha: hirundino (relativo a andorinha); inverno: hibernação, hibernáculo, hibernal, hibernar.
         Línguas românicas, como o italiano e o romeno, já aboliram o h mudo inicial em determinados vocábulos. Exemplos: abito, onesto, ipocrisia, oróscopo (língua italiana). Mas, quanto a isso, é necessário muito cuidado.
         Na próxima publicação, a continuação dos comentários e análises críticas de todas as regras da nova proposta de reforma ortográfica que está gerando muita controvérsia. Até o próximo mês!  
         

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Ano V - número 54 - maio/2015: Novos ataques perpetrados contra a língua portuguesa (I)

         Caro (a) leitor (a), neste mês, vamos tratar de um assunto bastante polêmico e que já tem causado celeuma entre os estudiosos da nossa língua materna.
         Se o Acordo Ortográfico que, mesmo não sendo em caráter obrigatório, começou a ser utilizado em 2009, ainda é controverso, uma nova investida está sendo feita contra a língua portuguesa.
      O mais grave é que tal investida está sendo protagonizada por uma comissão do Senado Federal. Ou seja, novamente se trata de uma manipulação política com objetivos escusos e alheios aos benefícios do idioma, que não serão respeitados.
         Como se não bastassem as modificações absurdas e ridículas impostas pela mais recente reforma ortográfica (retirada dos acentos agudo e circunflexo de determinadas palavras e do trema em praticamente todas elas, por exemplo), eis que uma nova proposta, ainda mais ousada e radical, está sendo elaborada pela Comissão da Educação do Senado, em Brasília.
         A esta altura da leitura do comentário, você, leitor (a), deve estar se perguntando: "Mas, que espécie de competência e autoridade possuem a respeito disso os senadores da república?"
         E a resposta criteriosa vem logo em seguida: "Na verdade, absolutamente nenhuma." Como se não fossem suficientes os escândalos de corrupção que espalham de forma avassaladora pelo país, os senadores ainda têm a petulância de invadir o âmbito lingüístico. 
         Para tentar justificar esses desmandos, a comissão convocou dois especialistas como mercenários para coordenar o grupo técnico. Com certeza, esses dois que são tidos como especialistas foram contratados por um cachê altíssimo para se venderem e desempenharem a função que lhes foi proposta. São eles: Pasquale Cipro Neto, conhecido professor de português, fabricado pela mídia, mais especificamente, pela TV Cultura de São Paulo, e Ernani Pimentel, outro professor, que comanda um site de ortografia na Internet e que fomenta um movimento para "substituir o decorar pelo entender".
         O presidente da comissão é Cyro Miranda, senador do PSDB/GO. Ele afirmou que, além de reduzir o número de regras e exceções na língua, o objetivo da comissão é expandir o debate com a comunidade, especialistas e países que falam o português. Afirmou também que foi solicitado o adiamento do prazo de obrigatoriedade da atual reforma ortográfica justamente para a montagem dessa comissão com a intenção colocada em primeiro plano de simplificar a ortografia.
        Leitor (a), veja que absurdo: postergar a obrigatoriedade de uma reforma ortográfica polêmica com o intuito de acrescentar outras regras ousadas e radicais.
         Tal conjunto de regras foi apresentado entre os dias 10 e 12 de setembro de 2014, durante o Simpósio Internacional Lingüístico-Ortográfico da Língua Portuguesa, realizado em Brasília.
        Conforme o referido senador, a intenção é ter a versão final do projeto acabada neste mês corrente para que seja colocada em votação e possa entrar em vigor no início de 2016.
         Como se observa claramente, estão querendo fazer tudo às pressas e com forte imposição.
         Na seqüência, conheça as regras propostas pela Comissão da Educação, com alguns exemplos:
1- Fim do H no início da palavra: Homem - Omem; Hotel - Otel; Hoje - Oje; Humor - Umor;
2- G fica com som de "gue": Guerra - Gerra; Guitarra - Gitarra;
3- CH substituído por X: Chá - Xá; Flecha - Flexa;
4- S com som de Z vira Z: Asa - Aza; Brasília - Brazília; Base - Baze;
5- X com som de Z vira Z: Exame - Ezame; Executar - Ezecutar; 
6- C antes de E e I vira S: Censura - Sensura; Cedo - Sedo; Cidade - Sidade; 
7- SS vira S: Gesso - Geso; Fossa - Fosa;
8- SC antes de E e I vira S: Nascer - Naser;
9- XC com som de S vira S: Exceto - Eseto; Excêntrico - Esêntrico.
         Na próxima publicação, você, assíduo (a) leitor (a) deste blog, terá oportunidade de ler comentários abalizados e pareceres críticos a respeito dessas novas regras propostas e do momento inglório por que a nossa língua está passando novamente. Até o próximo mês!