domingo, 30 de março de 2014

Ano IV - número 41 - abril/2014: Exercícios úteis para aperfeiçoar o vocabulário

         Nesta publicação, prosseguimos, abordando sobre os exercícios práticos de aperfeiçoamento do vocabulário. E, para melhor compreensão a respeito da paráfrase, apresentamos o exemplo seguinte, que se trata de uma cantiga de amor de um trovador do século XII, Joan Garcia de Guilhade (literatura portuguesa).

Amigos, non poss'eu negar
a gran coyta que d'amor ey,
ca me vejo sandeu andar
e con sandece o direy

                   Os olhos verdes que eu vi
                   me fazen ora andar assi.

Pero quen quer x'entenderá
aquestes olhos quaes son,
e d'est'alguen se queyxará;
mays eu já quer moira quer non:

                    Os olhos verdes que eu vi
                    me fazen ora andar assi.

Pero non devia a perder
ome que já o sen non á
de con sandece ren dizer,
e con sandece digu'eu já:

                      Os olhos verdes que eu vi
                      me fazen ora andar assi.


Paráfrase:

Amigos, não posso negar
a grande mágoa de amor que sinto,
pois me vejo como louco
e como louco é que digo:

                       Foram uns olhos verdes que eu vi
                       que me fizeram ficar assim.

Porém, quem quiser saber
como eram aqueles olhos,
da sua dona há de queixar-se;
eu, porém, vivo ou morto, hei de dizer:

                        Foram uns olhos verdes que eu vi
                        que me fizeram ficar assim.

Porém, já não devia sofrer
quem o próprio juízo perdeu
por dizer coisas insensatas
como eu, que ainda digo:

                          Foram uns olhos verdes que eu vi
                          que me fizeram ficar assim.


         Nota-se, portanto, que a paráfrase segue todos os estágios do pensamento original, não omitindo detalhes que lhe possam comprometer a fidedignidade. Aliás, nesse aspecto, ela difere do resumo, que se conserva fiel ao original somente no que diz respeito à essência das idéias. Como exemplo, um soneto do poeta parnasiano Raimundo Correia:

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma e destrói cada ilusão que nasce;
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se perdesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja, agora
Nos causa, então, piedade nos causasse.

Quanta gente que ri talvez consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa.


Resumo:
Se tudo quanto nos faz sofrer intimamente se refletisse na expressão do rosto, se traduzisse em gestos ou atitudes, veríamos que muitas pessoas que hoje nos causam inveja nos despertariam compaixão, tanto é certo que para elas a única felicidade consiste apenas em parecer feliz.

          No próximo mês, daremos seqüência aos exercícios de aperfeiçoamento do vocabulário, tratando sobre a amplificação.
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           Estimo a todos os internautas leitores uma feliz e santa Páscoa da Ressurreição. Até a próxima publicação! 

sábado, 15 de março de 2014

Ano IV - número 40 - março/2014: Sobre os tipos de vocabulário

O terceiro mês de 2014 inicia com os dias destinados às folias de Carnaval e com as instituições educacionais em breve período de recesso. Porém, logo após, as atividades recomeçam plenamente.
O (A) assíduo (a) leitor (a) deste blog de comentários, nesta publicação, conhecerá os quatro tipos de vocabulário.
Todas as pessoas que são possuidoras de um grau médio de cultura têm ao seu dispor quatro tipos de vocabulário. Já as pessoas incultas ou analfabetas têm, com certeza, apenas o primeiro tipo.
Para a realização da comunicação oral do dia-a-dia, utilizamos o vocabulário da linguagem coloquial, que é relativamente pequeno. Ele é composto, em sua maioria, de palavras possuidoras de teor concreto. Estas, ligadas a coisas ou a situações reais, fluem espontaneamente na fala e são geralmente aprendidas de ouvido.
O segundo tipo pertence ao grupo de palavras que utilizamos ocasionalmente na linguagem escrita: literária, técnico-científica e didática. As palavras do primeiro tipo, ou seja, da linguagem coloquial, também fazem parte de seu acervo, juntamente com outras raras.
O terceiro tipo abrange as palavras que pessoalmente não empregamos nem na língua literária nem na coloquial, mas cujo sentido é familiar para nós. O vocabulário de leitura nos auxilia a compreender com facilidade uma página impressa sem precisar recorrer ao dicionário.
O quarto tipo é o vocabulário de contato. Ele abrange uma quantidade muito grande de palavras ouvidas ou lidas em variadas situações. Entretanto, o significado preciso delas nos escapa. Na verdade, tais palavras são aquelas que conhecemos, porém não sabemos exatamente aquilo que significam. Portanto, nós as lemos ou ouvimos, contudo não as apreendemos. Dessa forma, é um vocabulário hipotético, insignificante e inútil, apesar de ser muito numeroso.
Concluindo, o primeiro e o segundo tipos formam o nosso vocabulário ativo, que é bem menor do que o passivo, formado pelos dois últimos. O ativo possibilita a expressão do nosso pensamento. Já o passivo se presta somente para a compreensão do pensamento alheio.
Caro (a) leitor (a), após a exposição dos tipos de vocabulário, damos início, ainda nesta publicação, aos exercícios práticos de aperfeiçoamento do vocabulário.
A paráfrase representa um exercício bastante proveitoso, sobretudo quando não se limita à substituição por sinônimos de palavras ou expressões de determinado trecho. A paráfrase verdadeira deve ser como que uma tradução dentro da própria língua.
O português arcaico pode auxiliar nesse tipo de exercício, já que exige certas noções de história da língua.
No próximo mês, daremos continuidade, ilustrando a paráfrase com um exemplo textual prático e abordando ainda sobre mais um exercício para aperfeiçoar o vocabulário. Até a próxima publicação!