Nesta publicação, prosseguimos, abordando sobre os exercícios práticos de aperfeiçoamento do vocabulário. E, para melhor compreensão a respeito da paráfrase, apresentamos o exemplo seguinte, que se trata de uma cantiga de amor de um trovador do século XII, Joan Garcia de Guilhade (literatura portuguesa).
Amigos, non poss'eu negar
a gran coyta que d'amor ey,
ca me vejo sandeu andar
e con sandece o direy
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.
Pero quen quer x'entenderá
aquestes olhos quaes son,
e d'est'alguen se queyxará;
mays eu já quer moira quer non:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.
Pero non devia a perder
ome que já o sen non á
de con sandece ren dizer,
e con sandece digu'eu já:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.
Paráfrase:
Amigos, não posso negar
a grande mágoa de amor que sinto,
pois me vejo como louco
e como louco é que digo:
Foram uns olhos verdes que eu vi
que me fizeram ficar assim.
Porém, quem quiser saber
como eram aqueles olhos,
da sua dona há de queixar-se;
eu, porém, vivo ou morto, hei de dizer:
Foram uns olhos verdes que eu vi
que me fizeram ficar assim.
Porém, já não devia sofrer
quem o próprio juízo perdeu
por dizer coisas insensatas
como eu, que ainda digo:
Foram uns olhos verdes que eu vi
que me fizeram ficar assim.
Nota-se, portanto, que a paráfrase segue todos os estágios do pensamento original, não omitindo detalhes que lhe possam comprometer a fidedignidade. Aliás, nesse aspecto, ela difere do resumo, que se conserva fiel ao original somente no que diz respeito à essência das idéias. Como exemplo, um soneto do poeta parnasiano Raimundo Correia:
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma e destrói cada ilusão que nasce;
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se perdesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja, agora
Nos causa, então, piedade nos causasse.
Quanta gente que ri talvez consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa.
Resumo:
Se tudo quanto nos faz sofrer intimamente se refletisse na expressão do rosto, se traduzisse em gestos ou atitudes, veríamos que muitas pessoas que hoje nos causam inveja nos despertariam compaixão, tanto é certo que para elas a única felicidade consiste apenas em parecer feliz.
No próximo mês, daremos seqüência aos exercícios de aperfeiçoamento do vocabulário, tratando sobre a amplificação.
Prezado (a) leitor (a), para você, um convite especial: receba as publicações mensais diretamente no seu e-mail. Basta digitar o e-mail no campo próprio deste blog ("seguir por e-mail") e submetê-lo. Pronto! Em breve, você lerá cada comentário mensal com toda a comodidade.
Estimo a todos os internautas leitores uma feliz e santa Páscoa da Ressurreição. Até a próxima publicação!
Paráfrase:
Amigos, não posso negar
a grande mágoa de amor que sinto,
pois me vejo como louco
e como louco é que digo:
Foram uns olhos verdes que eu vi
que me fizeram ficar assim.
Porém, quem quiser saber
como eram aqueles olhos,
da sua dona há de queixar-se;
eu, porém, vivo ou morto, hei de dizer:
Foram uns olhos verdes que eu vi
que me fizeram ficar assim.
Porém, já não devia sofrer
quem o próprio juízo perdeu
por dizer coisas insensatas
como eu, que ainda digo:
Foram uns olhos verdes que eu vi
que me fizeram ficar assim.
Nota-se, portanto, que a paráfrase segue todos os estágios do pensamento original, não omitindo detalhes que lhe possam comprometer a fidedignidade. Aliás, nesse aspecto, ela difere do resumo, que se conserva fiel ao original somente no que diz respeito à essência das idéias. Como exemplo, um soneto do poeta parnasiano Raimundo Correia:
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma e destrói cada ilusão que nasce;
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se perdesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja, agora
Nos causa, então, piedade nos causasse.
Quanta gente que ri talvez consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa.
Resumo:
Se tudo quanto nos faz sofrer intimamente se refletisse na expressão do rosto, se traduzisse em gestos ou atitudes, veríamos que muitas pessoas que hoje nos causam inveja nos despertariam compaixão, tanto é certo que para elas a única felicidade consiste apenas em parecer feliz.
No próximo mês, daremos seqüência aos exercícios de aperfeiçoamento do vocabulário, tratando sobre a amplificação.
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